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Research Article

Currículos que emanam das práticas: Reflexões sobre educação linguística em inglês com crianças no Brasil

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Received 14 Dec 2023, Accepted 16 Jul 2024, Published online: 07 Aug 2024
 

RESUMO

No Brasil, a crescente oferta do ensino de inglês para crianças da educação infantil tem provocado reverberações em diferentes âmbitos e ampliado as discussões sobre visões de currículo (e educação docente para atuar no referido contexto. Considerando os desdobramentos de políticas de ensino e políticas linguísticas, bem como as vozes dos sujeitos envolvidos, as quais refletem e refratam motivos e justificativas para a inserção do ensino da língua inglesa desde os anos iniciais de escolarização, verificam-se movimentos que interpelam e reforçam visões do que significa ser professora de inglês para crianças pequenas. No bojo das discussões, sentidos de educação linguística crítica e de linguística aplicada crítica são caros na construção dos argumentos dessa proposta. Este artigo objetiva discutir, a partir de duas pesquisas de doutorado, conceitos centrais acerca de construções curriculares, iniciativas voltadas à formação de professoras, em especial no âmbito do estágio supervisionado, para atuar no referido contexto e ações de extensão que desencadeiam possibilidades de reimaginar e concretizar ações sobre o que significa a oferta da educação linguística em inglês para crianças no país. Escolheram-se os estudos acima mencionados porque são pesquisas desenvolvidas a partir das realidades brasileiras no contexto em tela e ambas argumentam por um fazer pesquisa socialmente relevante, contextualmente sensível e relacionalmente ético entre os indivíduos envolvidos. Além disso, entendemos, também, que eles são ilustrativos de uma crescente tendência da consideração de perspectivas críticas na pesquisa e na educação linguística em inglês com crianças. A análise do material empírico indicou que a não curricularização da educação linguística em inglês com crianças no Brasil oportuniza experiências e práticas, ensinando-nos que a formação de professoras acontece em diferentes espaços: disciplinas em cursos de graduação, de pós-graduação e, em especial, nas práticas, na extensão, no estágio supervisionado, no chão da escola.

Disclosure statement

No potential conflict of interest was reported by the author(s).

Notes

1 Pesquisas brasileiras mais recentes na área argumentam a favor da educação linguística em língua inglesa a partir de discussões que apontam para uma postura ontoepistemológica nas concepções do que significa ensinar uma língua quando se fala de crianças (Tonelli, Citation2023b).

2 Embora importante, neste artigo, optamos por não nos aprofundarmos no conceito de currículo e, dessa maneira, não nos alinharmos a nenhuma das várias correntes teóricas existentes, pois nosso propósito neste trabalho não é retificar ou ratificar proposições teóricas anteriores, mas, sim, argumentar por construções curriculares que emanam das práticas.

3 O uso das aspas simples marca que, ao falarmos em ensino de línguas no campo da educação linguística com crianças, não visualizamos uma atividade centrada no ensino do idioma e suas regras, mas como um fazer pedagógico que usa a língua também como meio de instrução, conforme discutido em Tonelli (Citation2023a; Citation2023b).

4 Ao longo de todo o artigo utilizamos a preposição com em itálico para marcar a perspectiva que vem orientando nossas discussões no que se refere à reorientação dos sentidos do ensino que se faz não somente para as crianças, mas principalmente com elas. Ou seja, o infante tem sua voz ouvida, reconhecida e considerada.

5 Explicamos que, ao citar pela primeira vez um/a autor/a, optamos por escrever seu nome por extenso e, a partir da segunda menção, seguir a orientação do cânone da escrita acadêmica, ou seja, fazendo referência somente pelo sobrenome. Essa escolha de apresentar o/a autor/a na primeira ocorrência pelo nome por extenso é uma tentativa—mesmo que pontual e inicial—de corporificar as referências que lemos e citamos.

6 Ambas desenvolvidas no âmbito do Grupo de Pesquisa FELICE (CAPES/CNPq) - Formação de professores e ensino de línguas para crianças. https://www.feliceuel.org/.

7 Assumido neste artigo como um processo, um lugar, um território em constante evolução.

8 Conforme argumentamos no decorrer do artigo, não tomamos o ensino de línguas e a educação linguística como sinônimos e defendemos que são posicionamentos praxiológicos conceitualmente distantes. Não intencionamos, no entanto, desconsiderar o papel central do ensino de línguas, mas, sim, de nos posicionarmos a favor de irmos além da sistematização da língua enquanto código, conforme discutido em Kawachi-Furlan & Tonelli (Citation2021) e em Tonelli (Citation2023b).

9 Convencionalmente, o conteúdo que abordamos nesta seção do artigo é lido em outras publicações acadêmicas como “Referencial teórico.” Optamos, contudo, por intitular a seção como eixos ontoepistemológicos pelo nosso reconhecimento da inseparabilidade do conhecimento construído (i.e., episteme) do contexto onde é feito (i.e., onto). Essa nossa valorização da inseparabilidade do conhecimento do conhecedor perpassa, também, pela cuidadosa e não ingênua seleção dos/as autores/as que compõem esta seção. Buscamos, assim, nas palavras de Silva (Citation2022, p. 162), a “problematização do campo social a partir da valorização das obras de autores que se dedicaram em contra-colonizar a matriz eurocêntrica-colonial-opressora que tende a universalização do mundo, ao compreenderem que o ‘modelo tradicional de ciência é atualmente um dos pilares da agenda neoliberal e sua economia do conhecimento sustenta o status quo sociopolítico e econômico geral’” (Stetsenko, Citation2021, p. 21).

10 Termo utilizado por Brossi (Citation2022) com base no conceito de cronotopo e a inseparabilidade entre tempo e o espaço de Bakhtin (Citation2011).

11 Utilizamos tal expressão para marcar movimentos praxiológicos característicos do campo onde este artigo está assentado: saberes das práticas que se transformam em ações (fazeres) as quais colaboram com outros saberes em um continuum de aprendizagens coconstruídas colaborativamente. Com isso, advogamos pela superação da colonialidade do poder, do saber e do ser (Ballestrin, Citation2013), também no âmbito da educação linguística em inglês com crianças.

12 Aqui, intencionalmente marcada no plural.

13 Neste artigo, compartilhamos da acepção desse conceito tal como proposta por Conti and Avelar (Citation2021, p. 93), para quem praxiologia é “a leitura daquilo que fazemos, imbuída do que somos e pensamos: as nossas escolhas como professoras estão cheias de nós e refletem o que pensamos, o que e como fazemos; também, são construídas pela nossa cultura e pelos elementos que a constituem, como nossa percepção do mundo, do lugar onde vivemos e de onde viemos, dos valores, das experiências.”

14 Considerando que a discussão do conceito de línguas nomeadas escapa do escopo do nosso artigo, optamos por não nos determos nele. Sugerimos, contudo, os estudos de Suresh Canagarajah (Citation2013) para pessoas interessadas em conhecer mais sobre tal conceito.

15 Tendo em vista a extensão deste artigo e seu foco, não abordaremos em detalhes os estudos decoloniais na LAC, sugerimos, contudo, a leitura de Pennycook et al. (Citation2022).

16 Em seu texto seminal sobre educação linguística no Brasil, Bagno and Rangel (Citation2005) conceituam-na como “o conjunto de fatores socioculturais que, durante toda a existência de um indivíduo, lhe possibilitam adquirir, desenvolver e ampliar o conhecimento de/sobre sua língua materna, de/sobre outras línguas, sobre a linguagem de um modo mais geral e sobre todos os demais sistemas semióticos” (p. 63). Em nosso artigo, contudo, é empregada a perspectiva crítica a partir de linguistas aplicadas brasileiras que se têm voltado ao inglês.

17 Considerando a extensão deste artigo, não nos foi possível apresentar todas as acepções de ELC discutidas em Pessoa et al. (Citation2018). Convidamos, no entanto, à leitura da obra na íntegra.

18 Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Brasil, Citation2006).

19 Conforme explicitado na nota 4.

20 Como também é o caso da Universidade Estadual de Londrina (UEL), relatado por Tonelli et al. (Citation2017), Costa (Citation2022), Rao (Citation2023); Lanza et al. (Citation2023) e Tonelli et al. (In press), por exemplo.

21 Textualmente, marcamos em itálico informações compartilhadas pela autora da tese analisada. Entendemos que esse diálogo com ela durante a escrita deste artigo evidencia traços da coconstrução das reflexões que aqui tecemos.

22 O Centro de Educação Infantil atende crianças de 0 a 6 anos e até o ano de 2023 foi administrado pela UEL e atendia filhos e filhas de servidores e servidoras da Universidade. A partir de 2024 passou a ser administrado pela Secretaria Municipal de Educação de Londrina-Paraná.

Additional information

Funding

This work was supported by the Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Notes on contributors

Juliana Reichert Assunção Tonelli

Juliana Reichert Assunção holds a Ph.D. in Language Studies from the State University of Londrina (Brazil) and is a Tenured Professor in the Modern Language Studies Department at the same University. Email: [email protected]

Alex Alves Egido

Alex Alves Egido holds a Ph.D. in Language Studies from the State University of Londrina (Brazil) and was a visiting scholar at Michigan State University (USA). Email: [email protected]

Gabrielli Martins Magiolo

Gabrielli Martins Magiolo is a PhD candidate in Language Studies at the State University of Londrina (Brazil). She holds a Master’s degree in Language Studies at the same University and is a Coordinator at a bilingual school in Londrina (Brazil). Email: [email protected]

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